Cozinha

Coloquei água num copo bebendo-o em duas goladas e coloquei-o para lavar olhando-a quando disse que as pessoas nem sempre são o que parecessem - se é assim as pessoas deviam mostrar o que são ou nunca ninguém vai gostar delas a sério - forcei um sorriso. Sabia isso bem demais, se o meu pai mostrasse a toda a gente quem realmente era para além de ser preso era odiado. - Tens fome? - acabei por perguntar.

Encolhi os ombros com o que ele disse e sentei-me num dos banquinhos da cozinha - As pessoas podem ter medo de mostrar quem são na realidade. - pousei o queixo nas minhas mãos. Olhei-o meio admirada quando perguntou se eu tinha fome e encolhi os ombros - Não, obrigada. - voltei a ir para o chão enquanto olhava para o Roy - Então, onde é que é o ensaio da banda maravinha? - perguntei com um sorriso.

Olhei-a de sobrancelha levantada quando ela disse que as pessoas podiam ter medo de mostrar o que são - melhor assim do que serem falsas - encolhi os ombros agarrando em garrafas de água e comecei a andar em direcção ao sítio do ensaio, que era ao lado da garagem e não na garagem - segue-me - disse descendo as escadas para a cave.

- Não vou discutir esse assunto contigo. - disse com um encolher de ombros. Olhei-o assim que começou a andar para fora da cozinha mas só me mexia quando o Roy disse para eu o seguir - É suposto começar a ter medo? Tu a levares-me para uma cave? A não ser que tenhas mudado de ideias. - disse com um sorrisinho e pousei as mãos nos ombros dele mas antes que se passasse disse logo - Está meio escuro, é só para ter a certeza que não te perco ou que não caio. - expliquei.

- Também não quero que discutas isso comigo - disse indo à sua frente até à cave. Fiz uma careta quando ela perguntou se era suposto ter medo - é suposto eu proteger-te que se nao eu perco mais do qur o meu dinheiro - fiz uma voz dramatica e revirei os olhos. Nao tinha nada a nao ser a banda e nao via como é que ele podia tirar-me isso. Senti as minhas costas ficarem tensas quando ela pôs as maos por cima das minhas costas - nao te aproveites.

Revirei os olhos e continuei a segui-lo não sei para onde - Não me estou a aproveitar. As minhas mãos estão nos teus ombros, comichoso. - abanei a cabeça e fui olhando em volta à medida que desciamos - Espero que aquilo tenho um sitiozinho confortável para eu me sentar e dormir enquanto espero que vocês acabem de brincar às bandas famosas. - resmunguei. Agora tinha de andar sempre com ele por amor de deus.

-O que tu quiseres - encolhi os ombros conduziando-a até à cozinha - mas temos que sair antes do almoço daqui - olhei para as horas, ainda faltava muito e olhei-a - não é suposto eu estar aqui.- Ela não sabia mas o meu pai tinha-me expulsado de casa e pelas minhas contas, o mês em que ele estava fora estava a acabar e ou era hoje que ele chegava, ou amanha.

- Tanto me faz. - respondi-lhe e sentei-me num dos bancos assim que chegámos à cozinha por não saber o que é que ele queria para o pequeno-almoço. Juntei as sobrancelhas com o que ele disse e assenti com a cabeça - Está bem, vamos embora antes da hora do almoço. - coloquei os braços em cima da mesa e pousei o queixo no mesmo - Voltamos para o colégio.

Levantei o olhar para Rebecca quando ela disse que voltavamos para o colégio e comecei a cortar fruta para uma taça abanando a cabeça - não, vais voltar para casa nem que eu tenha que ficar lá contigo, não se sabe o que é que o gato deu e podes voltar a sentir-te mal. O colégio não é a melhor coisa. - estendi-lhe a taça para que comesse.

Olhei para ele quando disse que íamos para minha casa e fiz uma careta - Só se formos para o meu quarto sem ninguém nos ver. - desviei o olhar para a taça de fruta que ele estendeu na minha direção e coloquei-a no meio da mesa para que ele também tirasse de lá. Tirei um bocadinho de fruta e levei-a à boca - A não ser que queiras estar com a minha irmã e ai eu posso ficar no meu quarto, tu vais para o dela e se me acontecer alguma coisa eu grito. - olhei-o discretamente e encolhi ligeiramente os ombros.

Revirei os olhos quando voltou a falar da sua irmã e sentei-me à frente dela com um garfo na mão para começar a comer - quantas vezes é que eu preciso de te dizer que eu não quero nem vou ter mais nada com a tua irmã? - perguntei de novo com um revirar de olhos e comecei a comer meio emburrado por ela estar sempre a carregar na mesma tecla.

- Também não ias ter nada comigo e foi só apanhar-te a dormir. - relembrei-o e continuei a comer a fruta que ele tinha cortado. Mordi o lábio inferior ao ver o ar dele e suspirei - Desculpa. - pedi sinceramente. Não me sentia normal, parecia uma criancinha porque só me apetecia andar para ali a chorar. Sempre que fechava os olhos mesmo que fosse só para pestanejar, conseguia ver-me novamente naquele beco e as sensações eram sempre bastante vívidas, como se ele ainda tivesse as mãos dentro do meu vestido. Arrepiei-me toda e engoli em seco - Podes comer, não tenho fome. - disse-lhe colocando os meus braços à volta do meu corpo.

-Eu não tenho culpa de não ter dinheiro para o meu medicamento e não conseguir controlar o meu sonambulismo - resmunguei quando referiu isso. Fiquei a olha-la por me ter pedido desculpa e mordi o interior da bochecha ao ver a forma como se agarrava ao corpo e levantei-me, ignorando-a quando disse que não tinha fome. Fui até atrás dela e agarrei-lhe nas mãos com as minhas - não penses nisso, não aconteceu nada.

- Eu posso ajudar-te com isso se quiseres. - ofereci-me mas já sabia que ele ia recusar - Posso pedir ao meu pai para te pagar mais, o suficiente para conseguires pagar o medicamento. - fechei os olhos com um suspiro quando ele se levantou e veio ter comigo. Cheguei-me mais para ele até encostar a cara ao peito do Roy e assenti com a cabeça quando ele disse para não pensar naquilo porque não tinha acontecido nada - Mas mesmo assim.. não me sai da cabeça.. - murmurei com um suspiro.

Abanei a cabeça quando se ofereceu para ajudar, o que parecia uma coisa de outro mundo mas mesmo assim recusei - o medicamento não é assim tão caro, o dinheiro que o teu pai me vai dar é o suficiente - disse para a descansar e para que não fosse chatear o pai. Encostei o meu queixo a sua cabeça quando ela encostou a mesma ao meu peito e abracei-a afagando-lhe as costas. - queres que fale com o teu pai sobre o que aconteceu, ou fica entre nós? - perguntei baixinho.

- Se quiseres eu falo com ele. - disse com a voz toda abafada por continuar com a cara encostada ao peito dele. Levantei o olhar para o Roy quando me perguntou se queria que ele contasse ou meu pai ou se deixávamos entre nós e suspirei - É melhor ele não saber ou vai passar-se e ainda reclama é contigo por não me teres protegido antes de isso ter acontecido. - encolhi os ombros e continuei a olhar para ele.

-Não precisas de falar com ele, ele vai acabar por me pagar, já não deve faltar muito - encolhi os ombros e olhei-a - Eu acho que alguém devia saber - disse mas acabei por encolher os ombros - tu é que sabes - não a larguei apesar de já estar a começar a ser um bocadinho estranho estarmos todos agarrados. Levantei a cabeça quando ouvi um carro e olhei para Rebecca. - Vem comigo - pedi agarrando-lhe na mão e puxei-a para a cave onde eu costumava ensaiar com a banda.

- Tu já sabes, acho que chega. - respondi com um encolher de ombros. Era demasiado vergonhoso que me começassem a ver como a coitadinha que quase tinha sido violada, não queria isso nem que o meu pai se passasse todo e ainda tivesse a feliz ideia de me trancar no quarto e não me deixar sair de lá. Afastei-me do Roy ao ouvir um carro e saltei do banco quando ele disse para ir com ele - O que é que se passa? - perguntei baixinho enquanto o seguia para a cave onde já tinha ido ver a banda dele a treinar.