Quarto do Roy

Como o meu pai não estava em casa queria aproveitar para estar lá em vez de estar no colégio. Suspirei quando cheguei até à minha caminha e fechei os olhos. Ia perder o dinheiro todo por causa dela. Custava assim tanto dizer-me para onde ia? Se não queria que eu fosse dizia, eu nem me importava, ia fazer outra coisa, desde que soubesse onde ela estava. Assim se ela demorasse muito ia ver se tinha acontecido alguma coisa, mas não, aquela cabeça loira não pensava.

- Eu só bebi um copo. - murmurei voltando a agarrar-me à cabeça e encolhi-me toda quando o ouvi falar-me daquela maneira - Não preciso da tua ajuda. - tirei o cinto de segurança e abri a porta do carro, caindo no chão mal tentei sair. Não queria a ajuda dele quando ele me tratava como se lhe estivesse a estragar a noite. Senti um arrepio e tentei controlar as lágrimas quando pareceu que voltei a sentir as mãos do outro pelo meu corpo. Eu não estava bêbada e não precisava de ninguém.

Nem tive tempo de dizer nada porque quando estava a olhar para ela só a vi cair. Abanei a cabeça baixando-me até estar mais ou menos ao mesmo nível dela - Desculpa - pedi-lhe quando percebi que estava a exagerar desta vez. Levantei-lhe a cara pelo maxilar e limpei-lhe a bochecha quando lhe vi as lágrimas nos olhos- anda, agarra-te a mim - puxei-a para mim e agarrei-a de novo dando um jeito com as mãos para conseguir abrir a porta e entrar em casa

Ia mandá-lo afastar-se de mim mas ele limpou-me a bochecha nesse preciso momento e soube que se dissesse alguma coisa ia desatar a chorar que nem uma bebé. Coloquei o meu braço à volta do pescoço dele para me apoiar nele enquanto caminhávamos para dentro de casa - Eu não estou bêbada. - voltei a dizer desta vez em voz alta para que ele ouvisse e acreditasse em mim - E eu não queria o que ele me estava a fazer. - disse mais baixo e voltei a encolher-me só de me lembrar daquilo.

Subi as escadas devagar até ao meu quarto e deitei-a na minha cama para que não desse mais nenhuma queda. - Eu sei - disse sentando-me ao lado dela - foi por isso que eu me meti no meio - continuei passando os dedos pelo cabelo, para os tentar pentear. - Agora estás bem, sim? - estiquei-me para uma manta que estava aos pés dela e, depois de a descalçar, coloquei-lhe a manta por cima dela - vou buscar-te alguma coisa para comeres, tenta não adormecer - levantei-me.

Deitei-me melhor depois do Roy me ajudar a deitar na cama e coloquei os braços por cima da manta que ele me colocou por cima para me tapar - Obrigada. - voltei a dizer com um pequeno sorriso e deixei que ele se fosse embora. Não ia conseguir adormecer, sempre que fechava os olhos parecia que voltava para aquele beco e sentia as mãos dele pelo meu corpo, deixando-me com vontade de vomitar.

Não sabia bem o que lhe dar para comer agora, por isso fiz apenas um chá e umas torradas com manteiga para não a sobrecarregar e subi até ao quarto de novo, vendo-a praticamente na mesma posição em que a deixei, ainda acordada. - Está aqui - coloquei-lhe o tabuleiro em cima das pernas e olhei-a - queres que te leve a casa? - perguntei, eu não queria pensar negativamente, mas eu não era a melhor pessoa quando era sonâmbulo e duvidava que ela conseguisse aturar isso.

Tentei sentar-me e acabei por o conseguir fazer quando o Roy pousou o tabuleiro com comida nas minhas pernas. Não me apetecia comer, tinha medo que se o fizesse vomitasse mesmo tudo mas não queria dizer-lhe que não ia comer quando ele tinha tido bastante trabalho com aquilo. Levantei o olhar para ele quando perguntou se eu queria que me levasse a casa e abanei a cabeça - Não, quero ficar aqui se não te importares.

Olhei a sua expressão quando olhou para a comida e mordi o interior da bochecha - bebe o chá pelo menos, não faz mal se vomitares. - encolhi os ombros - só te vai fazer melhor, aliás. Despi a minha roupa até ficar só de boxers e enfiei-me debaixo da cama depois dela dizer que queria ficar aqui. - Podes ficar. - Encostei as minhas costas às almofadas -mas eu não estou medicado e não sei o que é que pode acontecer enquanto dormimos. - avisei-a.

Assenti com a cabeça e agarrei na caneca do chá, dando pequenos golinhos no mesmo. Cheguei-me para a ponta da cama quando o Roy se enfiou debaixo das mantas e afastei o tabuleiro para o chão enquanto acabava de beber o chá a seguir. O chá estava a fazer-me bem apesar de ainda me sentir toda mole e com a cabeça às voltas - Não faz mal. - disse-lhe encolhendo os ombros.

Com a adrenalina toda que tinha tido quando afastei o gajo dela, começava a sentir cansado. Agarrei-lhe na mão quando ela se começou a afastar para a pontinha e deixei apenas a luz do lado dela acesa. - não precisas de te chegar para o fim da cama, não sou nenhum tarado - só quando dormia, completei mentalmente e fiquei a vê-la terminar o chá.

- Era para teres espaço, eu não pensei nisso. - disse-lhe e pousei a caneca vazia na mesa de cabeceira assim que acabei o chá. Deitei-me melhor na cama, com as mantas a tapar-me até ao queixo e virei a cara para o Roy, vendo-o com um ar cansado - Eu.. - murmurei mordendo o lábio inferior - Podes abraçar-me? - pedi baixinho sentindo as lágrimas a picarem-me os olhos novamente.

Quando a vi deitar-se estiquei-me até ao interruptor e desliguei também a luz dela, ficando apenas a olha-la pela luz que vinha da janela, que dava para ver alguma coisa. Juntei as sobrancelhas com a pergunta dela e aproximei-me dela até colocar um braço por cima do seu corpo e a puxar para mim - Tem calma, não aconteceu nada. - murmurei percebendo que estava assustada.

Encostei-me completamente ao peito do Roy e assenti com a cabeça, desatando a chorar sem me conseguir controlar - Se não tivesses aparecido.. ele estava a tocar-me. - murmurei sentindo outro arrepio e fechei os olhos com força - Eu queria afastá-lo mas eu não me conseguia mexer. - limpei a bochecha e o nariz com as costas da mão - Desculpa, tens de descansar. - murmurei fechando os olhos novamente.

Eu podia ser um otário quando queria, mas também a sabia tratar bem, como estava a fazer agora. Encostei o meu queixo na sua cabeça quando a comecei a ouvir chorar a sério, coisa que era a primeira vez e suspirei baixinho. Apesar de tudo, não gostava de a ver assim. Pelo menos não estava a fazer-se de forte a dizer que não precisava de nada. Isto tudo tinha baixado a barreira dela. - Está tudo bem - disse-lhe baixinho - eu apareci - dei-lhe festinhas nas costas e suspirei baixinho abanando a cabeça - eu fico acordado até adormeceres.

- Eu sei. - engoli em seco e encostei-me mais a ele. Nunca pensei que fosse acontecer mas sentia-me protegida ali com ele e a minha vontade de gritar com ele e o irritar tinha desaparecido completamente - Não precisas, não quero dar-te trabalho. - disse com um suspiro e rocei o meu nariz no peito dele, mordendo o lábio inferior por causa do cheirinho dele e fechei os olhos para me forçar a adormecer.

Dei-lhe festinhas nas costas quando se encostou mais a mim e percebi que ainda estava de vestido. Ia dizer alguma coisa, mas não quis dizer nada porque reparei que ela se estava a aninhar para adormecer. - Não me estás a dar trabalho - murmurei ainda mais baixo que o normal - dorme. - ajeitei-me na cama, não fazendo movimentos muito bruscos e fiquei a dar-lhe festinhas nas costas e apesar de tudo, acho que adormeci primeiro que ela.

Afastei a cara do peito dele quando percebi que tinha adormecido e sorri ao vê-lo de olhos fechados. Voltei a aninhar-me contra o corpo dele e demorei mas consegui adormecer apesar de não ter sido uma boa noite porque voltava sempre ao mesmo pensamento, voltava sempre àquele beco e ao que se tinha passado lá. Abri os olhos com um suspiro e ainda me sentia cansada mas já era de manhã. Tentei ficar sossegadinha para não o acordar e olhei para o quarto dele que nunca tinha estado lá.

Remexi-me quando comecei a acordar, ao mesmo tempo que me começava a lembrar de onde estava e do que tinha acontecido. Abri os olhos de repente só para saber se estava no mesmo sítio e sorri levemente por estar minimamente vestido e no mesmo sítio. Olhei para Rebecca, que estava com os olhos abertos e levantei a cabeça apoiando-me num braço para a olhar - estás bem? - perguntei.

Olhei para o Roy enquanto sentia a minha cabeça pesada e algumas das recordações da noite passada meio esborratadas mas ainda me lembrava da maioria das coisas, infelizmente - Sim. - respondi-lhe com um pequeno sorriso - Dormiste bem? - perguntei preocupada que não o tivesse deixado dormir - Não te queria chatear, desculpa. - murmurei fazendo uma pequena careta por causa da minha cabeça.

Assenti com a cabeça quando me perguntou se tinha dormido bem e sentei-me na cama - dormi, já tinha saudades de dormir no meu quarto- descansei-a e estiquei-me até à minha mesa de cabeceira esticando-lhe um comprimido e uma garrafa de água que eu trazia sempre para o meu quarto à noite. - Bebe isso, vai-te ajudar com a dor de cabeça. - garanti indo até ao meu armário buscar-lhe uma camisola para que estivesse mais confortável.

Agarrei no que ele me estendeu e tomei o comprimido, voltando a deitar a cabeça na almofada de seguida. Olhei-o quando se levantou e quando percebi que a camisola era para mim, vestia-a por cima. Não queria despir o vestido, continuava a sentir-me demasiado sensível para o fazer apesar de ser uma estupidez - Obrigada Roy. - agradeci sinceramente - Eu tenho sido uma estúpida contigo, não tinhas de me ajudar, obrigada.

Fui aproximando-me da cama enquanto ela dizia que eu não tinha que o ter feito porque ela tinha sido uma estúpida - e eu não tenho sido um estúpido? - perguntei sentando-me ao lado dela. - Não quero saber se o devia ter feito ou não, eu não ia ficar a ver-te ser violada. E para além disso, eu sou o teu babysitter - disse com um sorriso e estiquei-lhe a mão - anda ajudar-me a fazer o pequeno almoço.

Sentei-me na cama assim que acabei de me vestir e olhei para o Roy, sorrindo-lhe ao ouvi-lo - Obrigada. - voltei a dizer com um sorriso e agarrei na mão que ele me estendeu, dando-lhe um beijo na bochecha antes de me levantar. Deixei-me ir de mão dada com ele mas sem fazer nada de mais porque não queria abusar e deixá-lo a pensar que por me ter salvo já tínhamos de ser namorados ou algo do género, como é óbvio eu não pensava isso, simplesmente queria ser mais simpática com ele pelo que ele tinha feito por mim e ele tinha uma certa razão, estava na altura de ser mais eu e apesar de isso ter acontecido por uma coisa má, tinha que voltar a ser mais simpática - O que é que vamos comer?